Expectativas

Patrícia Alves Pereira / out 16, 2022

 
Parece existir no ser humano uma necessidade de controlar tudo, uma dificuldade em lidar com a incerteza, com o imprevisto. A tendência para criar expectativas de como as coisas supostamente devem correr, criar os cenários ideais.
 
Certa é coisa que a vida não é!
Nada é nosso, nada é garantido, nada é certo. A nossa vida é emprestada, a saúde pode faltar de um momento para o outro, um acidente pode mudar o curso da nossa vida num segundo, os filhos têm vida própria, as pessoas passam na nossa vida.
Porquê esta teimosia em querer tomar as coisas como certas? Esta inquietude pelo desconhecido.
Grande parte das coisas que vivemos são desconhecidas, vividas pela primeira vez. No meu casamento, a propósito de alguma dúvida em relação ao momento de cortar o bolo, uma vez que a festa foi muito informal, um primo com cerca de 11 anos disse-me “ó prima, tu não sabes casar muito bem, pois não?”, ao que lhe respondi a sorrir “pois não, nunca casei antes”.
Porque não aceitar a vida como ela é e deixar fluir?
Temos medo do sofrimento, da deceção, da desilusão porque, no fundo, esperamos. Criamos a imagem de como gostaríamos que acontecesse, sem deixar alguma margem para o imprevisto.
E não há nada de errado em ter medo, em reconhecer as nossas fragilidades, mas nós somos mais fortes do que pensamos e temos uma capacidade de superação e de adaptação maior do que imaginamos. Às vezes a mente mente!
O que não devemos permitir é deixarmo-nos ficar numa zona de conforto, porque é conhecida, previsível, segura e sem desafios ou surpresas, quando essa zona nos vai trazer bastante desconforto decorrente da estagnação, da desadaptação (porque o mundo continua a avançar e mudar), da falta de estímulo e motivação (que vem da experiência de algo novo e mais exigente). Tem um sabor agridoce. Não arriscamos, não sofremos, mas também não saímos do mesmo sítio, não temos a coragem de perseguir o que desejamos.
Qual o sabor de uma vida vivida sem risco, dentro da zona de (des)conforto?
Como te sentes ao escolher desistir de um sonho porque é mais confortável ficar numa situação que já conheces, ainda que te faça infeliz?
Se não estamos crescendo, estamos morrendo. A natureza tem movimento, não é estagnada. À semelhança das águas estagnadas, também a nossa vida pode ficar poluída, doente e desequilibrada.
O medo de alguns momentos desafiadores é forte o suficiente para te manter numa situação medíocre indefinidamente?
Com amizade,
Patrícia Alves Pereira